segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Pula-pula de Marina Silva e a “Santa” Natureza

Recentemente Heloísa Helena divulgou que sua “amiga” Marina Silva tinha se convencido a fundar um novo partido e disputar as eleições presidenciais de 2014, no que contava com seu (dela) apoio. Nada mais legítimo.

Por Wevergton Brito Lima



O problema é que, “por coincidência”, a partir daí meu e-mail acabou sendo “sorteado” por algum marinista convicto, muito cioso de suas obrigações como militante e que tem certeza de que eu não consigo passar sem ler as colunas de Marina Silva publicadas pela Folha de S.Paulo, inclusive com direito a retrospectivas!

Nas redes sociais também já é comum encontrar este tipo de iniciativa, principalmente de jovens, encantados sobre como Marina Silva, obreira da Assembleia de Deus, é legal e moderna (pois defende a natureza).

Eu já conhecia a face colunista da presidenciável, mas desisti de ser um leitor assíduo no dia em que ela comparou Chico Mendes com Dom Eugênio Sales...

Sobre meio ambiente o que se extrai das colunas da ex-senadora vem de uma visão idealizada da natureza e, mesmo quando ela fala em melhorar indicadores sociais, fica claro que a melhora destes é subordinada ao olhar místico de uma natureza idílica e pura.
 

Aliás, raramente você consegue ler ou ouvir alguma coisa minimamente coerente de certo tipo de “ambientalista” adorador do Al Gore e defensor do “capitalismo verde”.
 

Antes que alguém fique chateado e me acuse de distorcer as posições de Marina, peço apenas que leiam artigos dos dois personagens (Marina e Al Gore). Neles, sem falta, o leitor encontrará a mesma embrulhada de moralismo pequeno-burguês, “fetichização” da natureza, teorias catastrofistas, de vez em quando acompanhadas de fartas doses de misticismo e esoterismo da pior espécie. Tanto assim que, na Campus Party de 2011, segundo reportagem da Veja, “o clímax foi atingido quando Gore agradeceu a presença no evento da ex-candidata à Presidência da República Marina Silva – chamando-a carinhosamente de ‘minha amiga’. O público foi ao delírio. A ‘verde’ Marina acompanhou o debate sentada entre os campuseiros.”
 

Antes de qualquer alusão ao significado político das movimentações de Marina Silva, creio ser importante buscar entender o que significa, do ponto de vista ideológico, o discurso que Marina e muitos dos seus seguidores fazem sobre o meio ambiente.
 

Desde a queda do Muro de Berlim uma gigantesca máquina de propaganda tenta convencer o mundo de que a luta por um novo sistema social é utópica e irreal, e busca canalizar a vocação rebelde da juventude para causas colaterais que não ataquem o que realmente possa representar perigo ao status quo.
 

A “luta pela preservação ambiental”, destituída de conteúdo político, tem servido como uma luva a este propósito.

A visão mistificada da natureza é muito bem vendida por uma sórdida aliança entre mídia hegemônica, ONGs testas de ferro de interesses imperialistas e políticos oportunistas (alguns incrivelmente usados sem terem disso consciência, outros descaradamente canalhas), e consegue fascinar um incrível número de jovens bem intencionados que acabam convencidos de que o maior problema do mundo é salvar o urso panda, contribuindo assim para a alienação da juventude das causas reais da devastação ambiental e das injustiças sociais.
 

O Urso Panda, aliás, se dependesse da “santa” natureza já tinha ido pro vinagre há muito tempo. Esse animal é um bicho que evoluiu errado. Era carnívoro, virou herbívoro e passa 16 horas por dia comendo bambu. Apesar de comer de 9 a 14 quilos por dia, sua pouca absorção de nutrientes (característica de seu sistema digestivo ineficiente para o alimento que ele passou a comer) mal lhe sustenta as funções básicas do organismo.
 

Além disso, o Urso Panda, pra desespero da Ursa Panda, só quer saber de sexo uma vez por ano (tem um motel em Botafogo que tem o Urso Panda como símbolo, ou seja, um contrassenso).
A natureza, para desgosto da “trotskista cristã” Heloisa Helena, não perdoa esse tipo de falha e só o que salvou o Urso Panda da extinção foi a ação humana, que se dá ao trabalho de preservá-lo em cativeiro, fazendo de tudo para que o pouco entusiasmado Urso Panda procure com mais constância a senhora Ursa Panda, podendo nascer assim mais pandinhas.
 

Eu, de minha parte, apoio incondicionalmente as medidas contra a extinção do Urso Panda, se temos meios de preservá-lo, mas vejam que os que trabalham com a noção da “santa natureza” e aplaudem essa iniciativa caem em contradição com seu próprio discurso pois essa ação preservacionista é uma clara intervenção direta do homem no livre curso da natureza. Mas a natureza não é boa? A natureza não é justa? A natureza não é sábia? Claro que não! A natureza apenas é.
 

A natureza está pouco se lixando para considerações éticas, morais ou filosóficas. Quem tem estas preocupações somos nós, homens e mulheres.

Quando um jovem leão expulsa o leão mais velho da liderança de um bando, a primeira providência que o novo líder toma é devorar os leõezinhos, filhotes do antigo líder. A cena é de grande violência e dramaticidade. Num primeiro momento as leoas se unem para tentar deter o invasor e salvar os filhotes, mas via de regra são facilmente derrotadas. O jovem leão sai então à caça dos filhotes que, desesperados, tentam escapar, sem sucesso. Um a um são achados, mortos e devorados.

Rapidamente as leoas se adaptam à situação e se entregam ao novo líder. A “mãe” natureza não julga o “infanticídio” do leão e a conduta, digamos, muito liberal das leoas. O jovem leão, ao matar os filhotes, o faz por instinto, pois sem os filhotes as fêmeas entram mais rápido no cio e o Leão, ao contrário do Urso Panda, é um verdadeiro tarado e gosta de uma prole numerosa. Portanto, os discursos “infantilóides” sobre como a natureza tão boazinha é maltratada pelos homens maus é de uma superficialidade tão grande que raia à indigência mental, mas se extrairmos a essência da maior parte do discursos “eco-chatos” não é justamente isso que encontramos?
 

É lógico que a questão da preservação ambiental é um assunto da maior relevância e existe muita gente boa e séria que se intitula ambientalista, título que deve orgulhar e fazer parte do ideário de todo lutador social consequente. Mas, por outro lado, é preciso que essa discussão se dê em outras bases, onde os interesses pelo desenvolvimento humano, pelo combate à pobreza e à exclusão social não sejam colocados como inimigos da preservação ambiental. Sem um debate mais qualificado vamos apenas patinar na cantilena de charlatões e aproveitadores sem jamais aprofundar a questão que nos levará inevitavelmente a questionar o modo de produção. A devastação do meio ambiente é real? Claro. Existem espécies ameaçadas pela ação predatória do homem? Sem dúvida. Mas o modo de produção e os valores dominantes que daí decorrem são os reais problemas a serem enfrentados se quisermos falar a sério em preservação ambiental e não nos perdermos no pântano de “trotskismos cristãos” e outras aberrações.

Para finalizar, nas colunas da Marina publicadas pela
 Folha li duas vezes referências a uma carta aos jovens, escrita por Chico Mendes pouco antes de morrer. É engraçado que a colunista não tenha publicado nenhuma parte da mesma, já que ela é muito curta e incisiva. Em duas colunas distintas ela menciona a carta com destaque, mas sem citar qualquer trecho. Basta, no entanto, ler a carta para compreender que, para Marina, só interessa usar a face mais midiática do Chico Mendes. Termino, pois, com a carta do líder seringueiro que a Marina parece ter vergonha de divulgar. Por ela a gente percebe que, ele sim, compreendia a verdadeira dimensão da luta ambiental.


"Atenção, jovem do futuro:

Seis de setembro de 2120, aniversário ou centenário da Revolução Socialista Mundial, que unificou todos os povos do planeta num só ideal e num só pensamento de unidade socialista, e que pôs fim a todos os inimigos da nova sociedade.
Aqui fica somente a lembrança de um triste passado de dor, sofrimento e morte.
Desculpem, eu estava sonhando quando escrevi esses acontecimentos que eu mesmo não verei.
Mas tenho o prazer de ter sonhado.

Chico Mendes"


..

Nenhum comentário:

Postar um comentário