domingo, 13 de maio de 2012

Minhas Raízes e a boca cerrada da estrada



Meus pais nasceram em uma época em que imperava a lei dos coronéis de barranco. O prestigio e a patente era comprada pelo dinheiro, o poder era avaliado pela quantidade de seringais e extensão de terras. Meu pai nasceu no rio murú, no seringal Paraíso, minha mãe no rio Tarauacá, seringal Redenção, Filhos de famílias humildes e respeitadas.

Segundo minha mãe eu fui criado com todo cuidado, ela achava que eu iria orgulhar a família, quando ela saia de casa deixava a minha irmã mais velha (Nonata) cuidando de mim. Esses mimos não duraram muito tempo. Como não existia escola para estudar, fui escalado para dura tarefa. Aos 6 anos de idade fui convocado para acompanhar meu irmão mais velho No corte da seringa. Meu irmão sofria crises epilépticas e não podia andar  sozinho na floreta.

Meu irmão era um homem trabalhador e destemido, não tinha medo de nada. Se não fosse o problema de saúde, não precisa de minha ajuda. Minha missão era carregar a espingarda e subir no "pé de burro" para tirar a tigela, em caso de crises e desmaios (meu do irmão) tinha que vir correndo avisar meu pai para pedir socorro.

A peleja começava as 4: 00 hora da madrugada. Meu pai acordava para preparar a espingardas e os cartuchos, o balde, a faca de seringa, o saco encauxado e o pissoco de amarrar o saco. Minha mãe fazia o café e a farofa para o quebra jejum e me acordava para esfriar o corpo mudar a roupa e começar a viagem.

Pequeno e ainda um pouco atordoado entrava na “boca da estrada” antes do dia amanhecer. O caminho era estreito e em pouco tempo minha roupa estava completamente molhada do orvalho, os pés arrebentados de topadas em tronqueiras e espinhos.

Quando sol começava surgir e abrir raios no meio da floresta, minha roupa começava enxugar, o corpo começava a esquentar, os pássaros começavam a cantar, meu cansaço começava aliviar e a esperança de que mudo com menos sofrimento e opressão existia em algum lugar.

O dia era corrido, um rodo (uma volta) na estrada para o corte da seringa, Uma parada rápida no Fecho para comer uma farofa de ovos ou uma Jacuba (farinha com sal e água) e uma nova correria para colher e não deixar a chuva tomar o leite.

O chegada em casa só acontecia pelas 4;00 horas da tarde, mas ainda não era hora do descanso. Era preciso pegar um paneiro de cipó voltar para o mato para juntar cocos para defumar o leite. A noite chegava o descanso, mas a preocupação do dia seguinte já trazia o cansaço de volta.

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